Em Ruínas

quinta-feira, março 17, 2005

impressões

sabias que lá fora estava a chover? pensaste que havia sol, mas não.
ela disse-te que o sol cabia todo naquela folha de papel, lembras-te? sorriste com ternura, como se aquela fosse toda a verdade do mundo. foi um momento perfeito.
mas tinhas que voltar de novo à chuva e isso incomodava-te. porque também tu, naquele instante, soubeste que a perfeição existia. e que o sol, afinal, era um estado da alma. como a lua e a estrelas.

Mar Adentro


a eutanásia como pano de fundo. mas porque é cheio de vida, este filme é um exemplo de força e convicção.

sábado, março 05, 2005

fotografia por Marta Loureiro

"O amor é um sentimento adolescente, sabes, com tudo o que isso tem de cor, de sol e sonhos estendidos sobre a areia. E as coisas fluem, devem fuir, quanto mais tempo melhor, e mesmo as palavras que então dizemos só servem para exprimir aquilo que nós vivemos na relação amorosa, e isso não é necessariamente a essência do amor. Digo, és tão bonita, e exprimo não um juízo estético, mas um estado de alma, quero dizer que não há nada tão bonito como tu e que essa beleza me comove e que é dessa comoção que irrompe o amor que sinto por ti. Percebes? Quando amo, sou incapaz de descrever exactamente o que sinto, mas o que é mais extraordinário é que me estou completamente nas tintas para descrever aquilo que sinto, e é essa diferença, essa consciência da inutilidade das palavras, essa renúncia voluntária a compreender o que é o amor, que me deixa perceber que amo. O que eu digo, digo-o então porque é preciso que a voz soe entre dois amantes, que ela repercuta no atordoamento do coração, que ela chame ao outro o que queremos que o outro ouça dentro de nós".

António Mega Ferreira in A Expressão dos Afectos